Ele, ela ou ile?

Imagine a situação:

Você parte para uma série de entrevistas na rua e se depara com uma pessoa andrógina, ou que claramente não se prende visualmente ao gênero masculino ou feminino. Qual sua reação? Espera uma próxima pessoa?

Por receio, ou até falta de informação, podemos incorrer em uma abordagem preconceituosa enquanto jornalistas, mesmo quando essa não for a intenção.

Segundo o Guia de Linguagem Inclusiva, lançado pela HBO com o apoio da consultoria especializada Diversity Bbox, a receita é simples: perguntar não ofende!

Não é uma falsa imposição ou erro social imperdoável interromper e perguntar para a pessoa entrevistada quais são seus pronomes. Para evitar “ela” e “ele”, e suas contrações, pessoas não-binárias preferem utilizar “ILE”.

Mesmo não existindo na gramática portuguesa, essa abordagem, não apenas durante a entrevista mas também no processo de produção da reportagem, demonstra uma preocupação concreta e respeitosa com a inclusão social, em suas mais variadas vertentes.

Se os gêneros gramaticais não dependem de nossa vontade, os gêneros naturais podem – e devem – ser compreendidos para além do masculino e feminino”, destaca o doutor em Linguística pela USP Eduardo Calbucci. “Existem muitos grupos que não se sentem representados por essa dicotomia e reivindicam, com motivos de sobra, visibilidade. O que podemos fazer, do ponto de vista linguístico, por essas pessoas? Em primeiro lugar, ouvi-las, respeitá-las e compreender seus pontos de vista. Em segundo, lembrar que certas escolhas linguísticas são essencialmente políticas: quando falamos ou escrevemos, mostramos o que somos e o mundo que queremos”.

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